Os tumores são provocados por modificações nos genes. Estes são responsáveis por informar às células do nosso corpo acerca das proteínas que devem ser usadas para cada tipo de célula, bem como suas respectivas necessidades. Dado isso, é preciso destacar que a maior parte dos casos de câncer de ovário ainda tem origem desconhecida.
O que é sabido é que alguns fatores de risco tornam as pacientes mais propensas ao desenvolvimento do câncer de ovário. No entanto, existem ainda muitas teorias acerca dos elementos que podem causar a doença — daí, a possibilidade de o câncer de ovário hereditário ser uma hipótese cada vez mais ventilada dentro da comunidade científica.
O que é o câncer de ovário?
O câncer de ovário é uma doença silenciosa em seus estágios iniciais. Seus primeiros sinais podem ser facilmente confundidos como um mal-estar passageiro. No entanto, conforme a enfermidade se agrava, podem surgir outros sintomas, como desconforto abdominal e aumento do volume do abdômen.
Outros sinais são perda de apetite, fadiga crônica, perda ou ganho de peso inexplicável, alterações intestinais (como náusea, prisão de ventre ou diarreia), dores durante as relações sexuais, desconforto nas costas e sangramento vaginal anormal.
É importante destacar que a presença destes sintomas não simboliza, necessariamente, que há um tumor no ovário. A indicação é sempre buscar ajuda médica.
Quais são as causas do câncer de ovário?
O câncer de ovário pode estar associado a uma série de fatores de risco. Dentre eles, podemos citar:
- Idade avançada: a doença é mais comum em pacientes acima dos 40 anos;
- Obesidade;
- Maternidade após os 35 anos;
- Terapia hormonal depois da menopausa;
- Mutações genéticas associadas ao câncer de ovário hereditário;
- Tratamentos de fertilização in vitro;
- Histórico de câncer de mama;
- Tabagismo.
BRCA1 e BRCA2
O BRCA1 e o BRCA2 são genes que produzem proteínas supressoras de tumor, responsáveis pelo reparo de um DNA modificado, exercendo, portanto, um papel fundamental na garantia da estabilidade do material genético de cada uma das células.
Quando um dos dois genes sofre uma alteração, que garante o seu não funcionamento, o dano ao DNA pode não ser corrigido da maneira mais apropriada. Assim, as células apresentam maior chance de desenvolver alterações genéticas.
Mutações BRCA1 e BRCA2, portanto, são associadas ao aumento do risco do câncer de mama e do câncer de ovário hereditário.
Quais são os sintomas de um câncer de ovário hereditário?
O câncer de ovário — hereditário ou não — é uma doença silenciosa em seus estágios iniciais. Seus primeiros sinais podem ser facilmente confundidos como um mal-estar passageiro. No entanto, conforme a enfermidade se agrava, podem surgir outros sintomas, como desconforto abdominal e aumento do volume do abdômen.
Outros sinais são perda de apetite, fadiga crônica, perda ou ganho de peso inexplicável, alterações intestinais (como náusea, prisão de ventre ou diarreia), dores durante as relações sexuais, desconforto nas costas e sangramento vaginal anormal.
Câncer de ovário é hereditário?
O risco de um câncer de ovário acontecer é maior quando um parente de primeiro grau (indiferente se paterno ou materno) já foi diagnosticado com câncer — por isso a importância da história familiar.
Toda mulher que teve diagnóstico de câncer de ovário deve fazer avaliação genética.
Os consensos nacionais e internacionais são unânimes e enfatizam a importância.
Isso porque até 25% dos casos de câncer de ovário se devem a síndromes provenientes dessas alterações hereditárias em determinados genes, como o BRCA1 e 2, que veremos a seguir.
BRCA1 e BRCA2
Para entender mais sobre a síndrome do câncer de ovário hereditário, devemos compreender sobre os genes BRCA1 e BRCA2, responsáveis pela produção de proteínas que ajudam a reparar o DNA danificado.
Esses genes têm a função de proteger o corpo contra o surgimento dos tumores, uma vez que, quando apresentam certas alterações, conhecidas como mutações patogênicas, podem trazer como consequência o desenvolvimento do câncer. As mutações do BRCA1 e BRCA2 aumentam consideravelmente o risco do surgimento de diversos tipos de câncer ao longo da vida. Caso a pessoa tenha uma mutação genética em um desses genes, o risco de diversos tipos de câncer aumenta, como mostra a figura abaixo:
Os genes BRCA1 e 2 podem ser passados dos pais para os filhos?
Sim. Isso porque a síndrome do câncer de mama e ovário hereditários (HBOC) acaba levando a uma deficiência na correção do DNA e, com isso, geram células que não conseguem mais controlar seu crescimento. Se uma mulher recebe de seu pai ou de sua mãe esta mutação genética defeituosa, o risco do surgimento de tumores aumenta consideravelmente.
É importante salientar que os indivíduos afetados por essas modificações genéticas apresentam 50% de chance de transmitir o gene mutante para seus filhos. Esse tipo de herança é chamado de “dominante” e, por isso, não é incomum encontrar famílias com vários casos de câncer de mama, ovário e em outros locais e em várias gerações. Veja abaixo como o gene pode ser transmitido de uma pessoa afetada para o seu filho.
Câncer de ovário pode ter influência paterna?
Sim. Os homens que apresentam alteração nos genes correm um risco maior de desenvolvimento do câncer em diversos órgãos e também de transmitir o gene mutante aos filhos.
As mutações em BRCA1 e 2 estão associadas a outros tipos de câncer comuns em homens, principalmente o de próstata.
Como saber se eu tenho o gene do câncer de ovário hereditário?
Para descobrir se você é portadora da síndrome de câncer de ovário hereditário, o ideal é procurar um médico geneticista para a realização de testes genéticos que demonstrem a presença do gene normal ou defeituoso e realizar um acompanhamento adequado e individualizado.
Como diagnosticar o câncer de ovário?
Exames de rastreamento são muito úteis. Os dois testes mais realizados na pesquisa do câncer de ovário hereditário são o ultrassom transvaginal e o exame de sangue do marcador CA-125.
O ultrassom é capaz de diagnosticar uma massa no ovário, mas sem a correta afirmação se ela é benigna ou maligna. Quando utilizado para fins de rastreamento, o exame detecta, em sua maioria, massas que não têm relação com tumor. Um exame de biópsia é necessário para confirmar ou excluir o diagnóstico.
Já o CA-125 é uma proteína no sangue. Em muitas pacientes com câncer de ovário hereditário, os níveis desta proteína são muito altos. O teste pode ser útil como marcador tumoral, de modo a orientar o seguimento, o tratamento e até monitorar recidivas.
Como prevenir o câncer de ovário?
É muito importante que as mulheres estejam sempre atentas aos fatores de risco, mantendo o peso corporal adequado, consultando regularmente um médico, principalmente após os 50 anos.
Também é fundamental que uma mulher que possui histórico familiar da doença busque um teste genético. Em caso de resultado positivo, pode ser indicada a realização de cirurgias redutoras de risco, chamadas de ooforectomias profiláticas bilaterais. Apesar de parecer uma abordagem extrema, ela é de vital importância porque diminui a quase 0% a chance de uma mulher com Síndrome de Ovário Hereditário ter a doença. Isso é de extrema importância pois o câncer de ovário, como já dito anteriormente, se desenvolve rapidamente, e muitos casos são diagnosticados em fases mais tardias, que tem menor chance de cura. Podemos ver aqui em como a genética é uma forma de medicina preventiva.
Tratamento e seguimento da síndrome de câncer de ovário hereditário
A metodologia de tratamento e acompanhamento da síndrome de câncer de ovário hereditário é determinada pelo geneticista, com base na avaliação dos riscos de desenvolvimento do tumor maligno. As principais opções de manejo são:
Seguimento clínico para mulheres com mutações em BRCA1 e 2
Esse ponto deve ser discutido com a paciente em uma consulta de aconselhamento genético. As cirurgias redutoras de risco, que incluem a já mencionada ooforectomia bilateral (retirada de ambos os ovários), e a mastectomia bilateral (retirada de ambas as mamas), são indicadas caso sejam encontradas mutações positivas nos genes BRCA1 ou BRCA2.
Uma equipe multidisciplinar deve acompanhar a pessoa com mutação, incluindo médico geneticista, oncologista, mastologista, psicólogo e grupos de apoio de pessoas com mutações genéticas, que são facilmente encontrados em redes sociais atualmente.
Quimioprevenção – inibidores da aromatase
O uso de medicamentos quimioterápicos pode ser indicado como forma de prevenção ao desenvolvimento do câncer de ovário.
Medicações específicas para BRCA1 e 2
O uso de determinados fármacos é capaz de inibir enzimas que fazem parte da via onde o BRCA atua, os chamados inibidores da PARP. Esses inibidores ajudam a evitar a multiplicação de células cancerosas. O médico oncologista, juntamente com o geneticista devem acompanhar o caso para saber se a paciente tem indicação ou não desse tipo de medicina personalizada.
ONCOGENÉTICA E O PAPEL DO MÉDICO GENETICISTA NO CÂNCER
Em síntese, a oncogenética é uma área de especialização médica com foco no diagnóstico e no tratamento do paciente e da família com risco de câncer hereditário. O médico geneticista é o profissional habilitado para realizar essa avaliação de forma sistêmica, avaliando não apenas o indivíduo, mas toda a família.
A partir da realização de testes genéticos, é necessário realizar um correto acompanhamento da predisposição de pacientes com histórico familiar da doença, monitorando as chances do desenvolvimento da enfermidade. Quanto mais cedo for diagnosticado o câncer e identificada a mutação na família, maiores serão as chances de cura.
É muito importante que todas as mulheres que apresentam algum destes fatores de risco para câncer de ovário hereditário realizem um teste genético. Uma vez confirmado o diagnóstico, as pacientes devem ser encaminhadas para a avaliação oncogenética.
Quando procurar um médico geneticista para avaliação genética da síndrome de predisposição de câncer?
Acredito que agora você tenha mais clareza da importância da genética dentro da Oncologia. Esse é um campo muito recente, mas que mudou a forma com que a medicina é feita. Em resumo, uma pessoa com ou sem câncer deve procurar uma avaliação pelo médico geneticista nos casos abaixo:
- Todo caso de câncer de mama;
- Todo caso de câncer de ovário;
- Todo caso de câncer de mama em homens;
- Famílias com vários casos de câncer entre as gerações;
- Câncer em outras regiões, como pâncreas, intestino, estômago e endométrio;
- Se teve câncer e planeja ter filhos.
Para entender mais sobre o a Síndrome do câncer de ovário hereditário e o papel da oncogenética neste contexto, entre em contato com o Dr. Carlos Leprevost, CRMSP 158199, Registro de Especialista 86.412 e agende agora mesmo a sua consulta.
Referências:
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